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Por Luiz Flávio Gomes
Os pedófilos, em regra, abusam, mas não assassinam suas vítimas. O monstro de Luziânia (A.J.S.), chocantemente, é pedófilo e assassino. Pior: assassino em série (serial killer). Como explicar a cabeça desse anormal? No dia 02.11.05 ele praticou abuso sexual contra dois meninos (11 e 13 anos de idade). Foi condenado a 15 anos de prisão. O TJ-DF reduziu a pena para 10 anos e 10 meses de prisão. Em dezembro de 2009, depois de cumprir mais de quatro anos de cadeia, foi beneficiado com o regime aberto. Saiu do presídio e assassinou (pelo menos) seis adolescentes (e, ao que tudo indica, após ter praticado abuso sexual contra eles). Será que a ciência está em condições de revelar o que se passa na cabeça dele?
Todas as vezes que vejo uma notícia sobre pedofilia releio e reflito sobre a matéria que Jesús García publicou no jornal El País, de 02.05.08, p. 26: "O que se passa na cabeça de um pedófilo?" O que leva um indivíduo (adulto) a ter atração (sexual) por uma criança ou por um adolescente? O que leva um adulto a se excitar quando toca ou quando deseja ou quando vê cenas ou imagens sexuais relacionadas com uma criança ou com um adolescente? Em outras palavras, de onde vem esse prazer (erótico) chamado pedofilia, que envolve, de um lado, um adulto e, de outro, uma criança ou um adolescente? Os experts ainda não contam com uma resposta firme e conclusiva sobre esse delicado assunto. Mas há algumas hipóteses (de trabalho) que tentam explicar porque um adulto desenvolve pendores (sexuais) pedófilos: (a) experiências nocivas na adolescência ou na infância (realização de atos sexuais) ou (b) ter sido vítima de abusos sexuais na infância ou adolescência. O monstro de Luziânia admitiu que foi vítima de abuso sexual na adolescência bem como dentro do presídio. Resta ainda investigar se existe algum fato relevante em sua infância.
A infância e a adolescência são momentos cruciais para a formação da personalidade das pessoas. Muitos casos de pedofilia têm sua origem aí. A psicoterapeuta Sue Gerhardt (citada por Eduardo Punset, Por qué somos como somos, Madrid: Aguilar, 2008, p. 127) explica: "Adultos que padecem algum transtorno de personalidade ou se sentem infelizes... os problemas estão frequentemente relacionados com sua primeira infância". Desde o século XVII, escreve Eduardo Punset, se sabe que a alma e a felicidade residem no cérebro. Agora se sabe que também o amor está no cérebro. A forma de amar de uma pessoa adulta tem muito a ver com suas vivências infantis. Se é assim, uma criança que tenha sido vítima de constrangimentos ou abusos, ameaças e agressões, pode desenvolver um tipo anormal de amor quando adulto? É possível (para não dizer provável).
Mas uma coisa é o mundo da fantasia outro o da realidade. Pedófilos potenciais todos nós somos (ninguém ainda conhece todos os mecanismos de funcionamento do cérebro humano). A questão é saber o que leva alguém a desenvolver essas inclinações pedófilas e, no momento seguinte, como ele é capaz de passar do mundo da fantasia erótica para a realidade, física ou informatizada (internet). Para complicar mais ainda: como ele é capaz de se satisfazer sexualmente e depois matar a sua vítima (que foi a fonte do seu prazer)? E se tudo isso se dá em série, o que passa na cabeça desse monstro?
Criança ou adolescente que foi vítima de abuso sexual tem mais chance de ser o algoz de uma outra criança ou adolescente (no futuro). Isso é certo. Mas seria a pedofilia (e/ou pederastia) um desvio comportamental genético ou adquirido? Não existe consenso sobre isso. A questão continua aberta. Ao que tudo indica não se trataria de um desvio decorrente de fatores genéticos. Ou seja: aparentemente a pederastia é algo adquirido, que não vem com o nosso DNA.
De qualquer maneira, há um distúrbio mental e comportamental nos pedófilos (isso é rigorosamente certo): eles crêem que a criança gosta de ser tocada, que não há nada mal nisso, que isso é só uma forma de carinho, que estão em pé de igualdade com a criança etc. Na verdade, a desigualdade (assimetria) é patente. Não se pode comparar a experiência de uma criança com a de um adulto, ainda que o adulto tenha "parado o relógio do tempo", ou seja, ainda que o adulto tenha prazer de se comportar como uma criança, cuja vontade acaba sendo (sempre) viciada. A pedofilia é abjeta por fantasiar uma igualdade entre desiguais: um adulto e uma criança. Quando esse pedófilo, depois da sua satisfação libidinosa, mata a vítima, a hediondez se torna mais manifesta ainda.