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Preconceito, parasita da alma

27/07/2009
Por DR. GERALDO NOGUEIRA


Preconceito é um conceito ou opinião formada antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos, ou seja, uma idéia preconcebida. Esta é a definição dada pela maioria dos dicionários sobre o que se entende por preconceito. Partindo dessa primeira definição podemos afirmar que todas as pessoas têm preconceito sobre tudo que desconhecem, até porque o cérebro humano não fica sem respostas. Assim, quando estivermos diante de um objeto ou fato desconhecido, automaticamente faremos uma avaliação prévia do significado daquele fato ou situação apresentada, ou seja, estaremos diante de um "pré-conceito". Portanto, ter preconceito faz parte da natureza humana, que está em permanente busca de respostas para interpretar aquilo que desconhece.

O que torna um preconceito negativo é quando o agente de sua formação, por desconhecer ou não saber lidar com determinada diferença humana, passa a discriminar, separar, apartar ou segregar. Neste momento é que a palavra preconceito assume um significado negativo.

O preconceito é uma posição individual, temporal e situacional, enquanto a discriminação é uma atitude imoral e sistêmica.

Pessoas com deficiência sofrem preconceito?

É só lembrar que o corpo de qualquer indivíduo é o alvo das primeiras observações e, por esta primeira impressão, é que formamos a nossa opinião (pré-conceito) sobre o individuo com o qual nos relacionamos pela primeira vez. Assim, a deficiência, quando visível, pode levar as pessoas a um impacto negativo, fazendo-as formar igualmente, uma opinião negativa daquele individuo que se apresenta disforme, até por que, nós seres humanos, somos movidos muito mais por nossos medos interiores do que por atitudes pró-ativas. Qualquer diversidade humana que saia dos padrões com os quais estamos acostumados a taxar de normalidade, nos ameaça internamente, mexe com nossos medos, aquele medo subliminar da dura realidade que pode nos alcançar enquanto seres frágeis que somos. Nesse momento a tendência é a do afastamento, o atravessar a rua, a vontade de manter a pessoa ou aquela determinada situação o mais longe possível. Não fazemos por mal, mas por medo.

Alcançando-se essa fase do preconceito, estaremos diante do perverso processo discriminatório, pois ao colocar a pessoa em uma situação de inferioridade, lesando sua dignidade, comete-se a injustiça da discriminação. Dentro dessa insana realidade a igualdade fica prejudicada e a pessoa discriminada é levada a prejuízos econômicos, sociais e morais irreparáveis.

A discriminação é uma atitude que na maioria das vezes ocorre de forma velada, o que a torna covarde e traiçoeira, justamente pela impossibilidade do individuo discriminado se defender.

Para ilustrar o que dissemos, basta lembrar do seletivo mercado formal de trabalho. Este certamente é um dos ambientes onde as pessoas com deficiência mais sofrem o preconceito e claro, seguido do processo discriminatório.

O motivo principal dessa colocação reside no fato de que, não obstante ao reconhecimento de que hoje em dia exista um ambiente muito mais esclarecido quanto ao direito das pessoas com deficiência trabalhar, com exceção, ainda encontramos nas empresas atitudes de precaução quanto a uma colocação aberta, fora da lei de cotas.

Elevado número de empresários e profissionais do setor de desenvolvimento humano, responsáveis pelo processo de seleção de trabalhadores, procura fazer comentários positivos sobre a possibilidade de colocação de pessoas com deficiência, desde que habilitadas e qualificadas para as funções. No entanto evitam expressar suas dúvidas e receios, muito embora existam costumeiros preceitos fundados em preconceitos que os levam a algumas dúvidas, tais como: Pessoas com deficiência provocam pontos de maior dificuldade na empresa?  Podem surgir situações embaraçosas por tomada de atitudes inadequadas? Acidentam-se ou adoecem mais frequentemente? Faltam mais ao trabalho?

Analisando as questões apresentadas, verificamos que nenhuma delas está baseada na realidade, pois percebe-se que essas dúvidas podem ser aplicadas a todo e qualquer trabalhador. Em contrapartida, a recíproca é verdadeira, pois no meio empresarial com pouco conhecimento sobre o assunto é comum a afirmativa de que um trabalhador com deficiência é mais produtivo e estável, o que também não passa de um preconceito fundado em crendices popular.

O fato é que, por mais que uma sociedade avance em novas tecnologias, em reconhecimento dos direitos humanos e sociais e na aplicação da justiça, ainda assim o germe do preconceito estará agarrado à alma das pessoas, como um parasita silencioso, pronto para agir, destruir e discriminar.

A partir dessa constatação fazemos as seguintes perguntas: Por que temos preconceitos, mas não conseguimos admitir? Qual a melhor forma para lidar com esse sentimento? Será possível eliminar completamente o preconceito?

Para dar uma resposta positiva a estas questões, acreditamos que os movimentos de pessoas com deficiência que nos últimos anos tanto avançou na garantia da inclusão social possam abrir uma nova frente de ação em prol do combate ao preconceito.


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